QUEM ESCREVEU A BÍBLIA? UM HISTORIADOR ANALISA QUATRO TEORIAS
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Quem escreveu a Bíblia? Um historiador analisa quatro teorias
Livro medieval com registro do nascimento de Cristo: autoria e fidelidade histórica dos textos bíblicos são dogmas de fé, mas permanecem um mistério para a ciência
Por Philip C. Almond, The Conversation*
30/12/2023 15h57 Atualizado há 2 dias
A Bíblia conta uma história geral sobre a história do mundo: criação, queda, redenção e o Juízo Final de Deus sobre os vivos e os mortos.
O Antigo Testamento (que data de 300 a.C.) começa com a criação do mundo e de Adão e Eva, sua desobediência a Deus e sua expulsão do jardim do Éden.
O Novo Testamento relata a redenção da humanidade, realizada pela vida, morte e ressurreição de Jesus. Ele termina no livro do Apocalipse, com o fim da história e o Juízo Final de Deus.
Durante os primeiros 400 anos do cristianismo, a igreja demorou a decidir sobre o Novo Testamento. Finalmente, em 367 d.C., as autoridades confirmaram os 27 livros que o compõem.
Mas quem escreveu a Bíblia? Em linhas gerais, há quatro teorias diferentes.
1. Deus escreveu a Bíblia
Todos os cristãos concordam que a Bíblia tem autoridade. Muitos a veem como a palavra de Deus divinamente revelada. Mas há discordâncias significativas sobre o que isso significa.
Em sua forma mais extrema, isso significa que as próprias palavras são divinamente inspiradas - Deus ditou a Bíblia aos seus escritores, que eram meramente músicos de Deus tocando uma composição divina.
Já no século II, o filósofo cristão Justino Mártir via isso como necessário apenas para os homens santos submeterem suas pessoas purificadas à direção do Espírito Santo, para que esse plectro divino do céu, por assim dizer, usando-os como uma harpa ou lira, pudesse nos revelar verdades divinas e celestiais.
Em outras palavras, Deus ditou as palavras aos secretários bíblicos, que escreveram tudo com exatidão.
Essa visão continuou com a igreja católica medieval. O teólogo católico Tomás de Aquino simplificou a questão no século XIII: “o autor da Sagrada Escritura é Deus”. Ele qualificou isso dizendo que cada palavra da Sagrada Escritura poderia ter vários sentidos - em outras palavras, poderia ser interpretada de várias maneiras.
O movimento de reforma religiosa conhecido como Protestantismo varreu a Europa nos anos 1500. Um novo grupo de igrejas se formou ao lado das tradições católicas e ortodoxas orientais existentes no cristianismo.
Os protestantes enfatizavam a autoridade de “somente as escrituras” (“sola scriptura”), o que significa que o texto da Bíblia era a autoridade suprema sobre a igreja. Isso deu maior ênfase às escrituras e a ideia de “ditado divino” ganhou mais apoio.
[nós] estamos plenamente convencidos de que os profetas não falaram por sugestão própria, mas que, sendo órgãos do Espírito Santo, eles apenas proferiram o que haviam sido comissionados pelo céu a declarar.
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O “ditado divino” estava ligado à ideia de que a Bíblia não continha erros (inerrante), porque as palavras foram ditadas por Deus.
Em geral, durante os primeiros 1.700 anos da história cristã, isso foi assumido, se não defendido. Porém, a partir do século 18, tanto a história quanto a ciência começaram a lançar dúvidas sobre a veracidade da Bíblia. E o que antes era tido como fato passou a ser tratado como mito e lenda.
Sendo total e verbalmente dada por Deus, a Escritura não contém erros ou falhas em todos os seus ensinamentos, não menos naquilo que ela afirma sobre os atos de Deus na criação, sobre os eventos da história mundial e sobre suas próprias origens literárias sob Deus, do que em seu testemunho da graça salvadora de Deus em vidas individuais.
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2. Deus inspirou os escritores (visão conservadora)
Uma alternativa à teoria do ditado divino é a inspiração divina dos escritores. Nesse caso, tanto Deus quanto os seres humanos colaboraram na redação da Bíblia. Portanto, não as palavras, mas os autores foram inspirados por Deus.
Há duas versões dessa teoria, que datam da Reforma. A versão conservadora, preferida pelo protestantismo, era: embora a Bíblia tenha sido escrita por humanos, Deus era uma força dominante na parceria.
Os protestantes acreditavam que a soberania de Deus anulava a liberdade humana. Mas até mesmo os reformadores, Martinho Lutero e João Calvino, reconheceram que a variação nas histórias bíblicas poderia ser atribuída ao arbítrio humano.
Os católicos estavam mais inclinados a reconhecer a liberdade humana acima da soberania divina. Alguns flertavam com a ideia de que a autoria humana estava em jogo, com Deus intervindo apenas para evitar erros.
Por exemplo, em 1625, Jacques Bonfrère disse que o Espírito Santo age: “não ditando ou inspirando, mas como alguém que fica de olho em outro enquanto ele está escrevendo, para evitar que ele cometa erros”.
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