'DOR, VERGONHA E CONSTERNAÇÃO': PAPA RESPONDE AO PRESIDENTE DA BOLÍVIA SOBRE ESCÂNDALO DE PEDOFILIA NA IGREJA BOLIVIANA
'Dor, vergonha e consternação': Papa responde ao presidente da Bolívia sobre escândalo de pedofilia na Igreja boliviana
Francisco enviou carta a Luis Arce e afirmou que o abuso de menores 'segue sendo um dos maiores desafios para a Igreja do nosso tempo'
Por Julio Núñez, El País — Madrid
16/06/2023 12h55 Atualizado há 7 meses
Dor, vergonha e consternação foram os sentimentos expressados pelo Papa Francisco para definir como se sente diante do escândalo de pedofilia que sacudiu a Igreja Católica na Bolívia. A posição de Francisco ficou pública nesta sexta-feira em uma carta que ele enviou ao presidente do país, Luis Arce, que havia escrito ao Papa para relatar a série de abusos cometidos por religiosos no país, em casos que ficaram conhecidos em abril.
A maioria dos casos revelados recentemente foram praticados por integrantes da Companhia de Jesus — a ordem religiosa a que pertence o Pontífice — e encobertos por superiores eclesiásticos do país. “Manifesto-lhe minha dor, meus sentimentos de vergonha e consternação. Pensando nas ações nefastas desses sacerdotes e, também, na negligência de quem deveria ter vigiado. Me sinto comovido e impressionado porque os ministros da Igreja devem ser guardiões e garantidores do bem e do futuro das gerações mais jovens”, diz o texto da carta, escrita em 31 de maio, mas tornada pública neste semana, dia em que o Papa teve alta do hospital após uma nova cirurgia de intestino.
O terremoto político e midiático na Bolívia começou em 30 de abril, depois da publicação no jornal El País de uma reportagem que revelava a história do jesuíta espanhol Alfonso Pedrajas, que admitiu em um diário secreto ter abusado de dezenas de crianças em colégios bolivianos geridos pela Companhia de Jesus. Ele também contou como seus superiores acobertaram tudo.
Nas semanas seguintes à publicação, o escândalo mobilizou o país e entrou na agenda política. Os jesuítas afastaram cautelarmente oito integrantes que tinham altos cargos por suposto encobrimento e o Ministério Público abriu uma investigação. O governo também apresentou um projeto de lei para criar uma comissão da verdade e o presidente Arce escreveu a carta para o Papa, em 22 de maio, para pedir acesso a todos os arquivos sobre os casos de pedofilia cometidos por clérigos em território boliviano.
“Me dirijo ao senhor consternado e indignado pelos atos que recentemente se revelaram em nosso Estado Plurinacional da Bolívia, a partir da investigação do jornal El País da Espanha, chamada de “Diário de um padre pedófilo””, disse Arce na carta.
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